23 janeiro 2006

o dia seguinte

Algumas fotos do cenário final do filme, depois daquilo a que nós, carinhosamente, gostamos de chamar "a destruição":



(escrito ao som de Old Jerusalem - 180 Days)

dia 9 - "Tá fixe, tá feito!"

É bom começar o dia relaxado, e já há algumas semanas que isso não era frequente. Prontos para um último dia de filmagens, em que tínhamos poucos planos e simples, e com todos os actores no set, sabíamos que hoje era a festa!

Começámos a manhã com dois dos planos que tinham ficado atrasados do dia anterior por causa da tal questão do actor que teve de sair. Eram planos complicados, porque implicavam todos os 11 actores a representar ao mesmo tempo e no ritmo, para além de ter a coreografia, a câmara com movimento de grua,e ainda fumo (gelo seco), que como tinha sobrado pouco, só daria para fazer uma vez. Assim, ensaiámos tudo muito bem, e no momento em que libertámos o fumo, deu tempo para fazer duas vezes a acção. Passámos aos planos do dia. Hoje íamos filmar a sequência final, já com todo o cenário destruído, o que foi, de certa forma, um cenário que deu prazer em preparar. Os primeiros planos eram muito importantes porque vão levar um elemento em 3D (criado pelo João Seabra) que será colocado por cima da imagem real. Assim, e como a câmara tinha movimento, fizemos várias vezes até sair bem. Nenhum actor se podia mexer um milímetro, o que, parecendo que não, pode ser bem complicado de conseguir. No fim, depois de repetirmos várias vezes, deparámo-nos com um erro de continuidade. A boina, do Sr. Xavier, que deveria estar caída no chão, estava na cabeça... solução? Depressa pensei em dois planos "extra" com a história ligeiramente alterada, de modo a corrigir esse erro no filme final.
A manhã proseguiu com esses planos finais da resolução do filme. As cenas eram bastante simples, e penso que terão ficado melhor do que aquilo que eu tinha imaginado. Ás vezes é assim: por muito que se tente ter o filme na cabeça, só vendo algumas cenas a serem representadas é que se tem percepção se vão funcionar ou não.
Depois de almoço, fizemos as ultimas cenas, ainda tivemos tempo de repetir algumas que durante os outros dias não tinham ficado tão bem, e também alguns planos extras que eu fui pensando à medida que íamos filmando. No final do dia, depois da comemoração e despedida dos actores, ainda filmámos alguns inserts do cenário, e o últimos plano, foi o vaso a cair. Conseguimos repetir duas vezes, embora da segunda vez a planta já se tenha ressentido um pouco. Foram preciso muitos cálculos para que a planta caísse exactamente onde queríamos.
Ainda antes de ir embora começámos a arrumação daquelas coisas que exigiam mais urgência.

No fim, o saldo destes 9 dias era bem positivo. Não só conseguimos filmar tudo o que queríamos e bem, como enquanto equipa fomos muito organizados, esforçados e empenhados em fazer deste filme um sucesso, apesar do enorme cansaço que todos fomos sentindo. Os actores disseram-nos que gostaram muito de trabalhar connosco, e do filme, elogiaram o nosso profissionalismo, mesmo sendo apenas estudantes, e o carinho com que os recebemos e os tratámos todos os dias. É sempre compensador ouvir assim elogios de actores tão bons e com tanta experiência como são estes que connosco trabalharam. Os meus parabéns a todos eles, e a toda a equipa extraordinária que trabalhou neste projecto. Estou muito feliz com o meu trabalho e com o de todos eles.
Para além disso o nosso projecto começa a ter alguma visibilidade. Não só tivémos muitas visitas ao set durante as filmagens, mesmo de profissionais da área de fora, que ouvindo falar do nosso projecto quiseram "ver com os próprios olhos", como também as reacções ao blog têm sido muitas e as mais variadas.

Mas se a fase das filmagens já acabou, uma nova se inicia. Esta semana ainda temos muito para desmontar e arrumar, mas vamos já começar a vizualização e selecção das imagens, para logo começarmos a editar. O tempo aperta, e dois meses não é nada.
Nos próximos tempos, mais posts sobre a produção, equipa, actores, personagens, filme, história, e sobre todo o processo de pós-produção.

Até breve.


(escrito ao som de Coldplay - Fix You)

22 janeiro 2006

dia 8 - especial efeitos

Eis que chega o dia que todos esperávamos. Saltar da cama hoje foi bem rápido, mesmo com muito sono, tal era a ansiedade pelo dia que ia começar.
Os efeitos especiais começavam às dez horas, e iam ter de sair ao primeiro take, porque só tínhamos os técnicos de manhã, e a quantidade de explosivos tinha sido reduzida a 9 para o candeeiro, mais 3 para o computador. Para além disso só íamos ter mesmo uma câmara o que nos reduziu os planos para metade. Isto, se todos os takes corressem bem à primeira. O nosso maior receio era que algum actor se magoasse, principalmente a Zulmira que era a que teria o maior contacto com o candeeiro. Também podia dar-se o caso de ela se assustar de verdade, desequilibrar-se e cair, o que não seria nada bom...
A equipa estava muito concentrada e organizada. Estávamos todos no set a fazer as mais variadas funções, desde fazer piscar o candeeiro a segurar na Zulmira, e nos armários à volta, etc... Ensaiámos várias vezes para que tudo saísse bem no momento.
O primeiro take. O momento de mais tensão da manhã. Silêncio. Tudo Preparado? Acção. O candeeiro explode mesmo na mão da actriz, que se assusta e se desequilibra. Consegue-se agarrar e voltar à personagem. Corta! Estava tudo bem. Tal como no ensaio de ontem, o barulho assusta bastante, mas não teve perigo nenhum para as pessoas. O resto da manhã foi mais tranquilo. Fizemos 7 takes da explosão, dos quais só um não podemos aproveitar porque apareceu uma corda a meio. Ninguém se magoou, embora quase todos os actores tenham feito uma expressão mesmo genuína do momento, até porque embora controlado, há sempre algum receio destas coisas, e o estrondo assusta sempre um bocado - que o diga a Laura, que deu um salto para trás fantástico. Não eram todos os planos que eu queria, mas, dentro do possível, até não foi nada mau, e podemos aproveitar quase todos os primeiros takes.
A seguir, a explosão do computador do Augusto. Embora fosse bem mais fácil, foi bem mais demorada e complicada, porque não havia maneira de conseguir sincronizar os movimentos com as explosões, mas lá ao quarto take conseguimos.
A manhã pareceu bem mais simples do que o que tínhamos imaginado, e fomos almoçar À hora prevista, satisfeitos com o trabalho de todos.
À tarde, um dos actores teve problemas pessoais e teve de sair. Foi uma dor de cabeça reorganizar todos os planos e ainda perdemos uma boa horita nisso. Deixámos alguns planos para amanhã, mas também adiantamos mais alguns. Aproveitando que tínhamos o gelo seco, fizemos um planos com o fumo, mas fiquei um pouco desiludido. O efeito no local é lindíssimo, mas acho que não há nenhum plano em que se consiga captar essa beleza. É uma questão de opção: ou os planos lógicos para a história, ou os planos bonitos, do chão cheio de fumo. Pela terceira vez adiamos o plano em que o tacão parte, porque não há maneira de ficar realista. A tarde foi divertida "I like to move it, move it...", mas mais uma vez notei que estávamos todos de rastos. Acabámos cedinho, e a equipa foi embora. Ficámos a reorganizar o dia de amanhã, e a rever todo o argumento, story-boards e planos de rodagem para nos certificarmo-nos que nada sobrava, que não pudesse ser feito amanhã. Ainda à noitinha, aproveitámos o gelo que tinha sobrado e fizemos mais uns inserts do computador com o fumo a sair. Foi a parte mais divertida do dia poder destruir por completo um monitor, e abrindo um buraco, conseguimos esconder um mini balde, com gelo seco, que fazia o fumo sair pela frente, e não só por trás... truques...
Ainda numa de truques posso adiantar a título de curiosidade que hoje tivemos dois duplos. Em primeiro lugar a Joana Mesquita tomou o lugar de Zulmira, com a sua roupa vestida, e fez alguns dos planos do candeeiro, dos mais perigosos. Em segundo lugar o Daniel, vestiu o casaco do Coutinho, e conseguimos contornar os planos sem ele apanhando apenas ligeiramente o braço, o que dava a presença do personagem, sem ele realmente lá estar. Ainda pelo meio muitos truques do género para contornar os mais diversos problemas, mas depois conto noutra altura. Amanhã é o último dia. Acaba uma fase muito importante, e estou confiante de que vai acabar bem.
Fala-se cada vez mais do Paraíso Fiscal...


(escrito ao som de Beth Orton - Live as you Dream)

21 janeiro 2006

dia 7 - os 3 actores à solta...

Hoje era um dia relativamente tranquilo, se não fosse termos de acabar antes das 5, por termos marcado os ensaios dos efeitos especiais.
Chamámos ao dia de hoje o dia dos “4 funcionários”, mas só tivemos 3, porque as cenas da Paula gravamos no outro dia à noite. Também já tínhamos grande parte das cenas do Júlio e da Zulmira, pelo que começámos de manhã com as cenas do Augusto (Mário Moutinho) e depois gravámos as cenas em que aparecia mais do que um personagem a interagir.

A manhã foi fácil, mas muito lenta. Nota-se cada vez mais o cansaço em toda a gente, e parece que agora só a certeza de que temos bom material nas mãos nos dá motivação para continuar com a dedicação que temos tido nos últimos dias… O Mário Moutinho, para além de ser um excelente actor, é uma óptima pessoa, e trabalhar com ele na manhã foi extremamente divertido. O personagem que ele criou, embora tenha sido um pouco limado, era diferente do que eu tinha imaginado, mas também já o sabíamos, ao tê-lo escolhido no casting. Mesmo assim, achámos que tinha tudo para fazer um personagem ainda melhor do que o que imaginamos, e assim foi. Passámos a manhã a espancar um computador, e a bater com carimbos, e ao final as mãos dele já estavam quase em ferida, de tanta violência. Ainda antes de almoço, gravámos os planos dele com o Júlio (Alexandre Falcão), que também foram extremamente divertidos para todos, excepto para as meninas da continuidade, que entre cada take demoravam imenso tempo a pôr tudo no sítio, já que a quantidade de coisas que iam pelo ar não tinha fim… Ainda de manhã gravámos vários planos com o computador que foram difíceis de preparar. Primeiro tínhamos 3 monitores de computador iguais, um deles já partido. Depois para gravar as cenas em que aparecia o próprio ecrã, tivemos de o ligar a um portátil que estava ao lado, onde alguém escrevia ao mesmo tempo que o personagem, e onde outra pessoa criava as interferências na imagem ligando-o e desligando-o da tomada a quando da minha indicação. O software que aparecia na imagem era mesmo próprio das finanças. Também para o plano em que o Augusto dá uma pancada no computador que o faz explodir usámos um puff, debaixo da secretária para o monitor cair, sem se partir. E ainda gravámos mais alguns planos para os créditos iniciais. Hummm… não sei se devia revelar tantos segredos da produção, mas o engraçado no cinema é exactamente as ilusões que são criadas contornando a verdade em função do verosímil (isto lembra-me umas aulas de ética aqui à uns anos atrás…).
O almoço hoje era especial, porque convidámos algumas das pessoas da Universidade que mais nos ajudaram na pré-produção, e porque o almoço foi feito pela D. Nazareth – quem conhece sabe quem é… Foi muito bom pelo convívio, troca de ideias, promoção do filme, discussão de assuntos relativos à produção, e ainda por termos aberto mais um pouco o nosso trabalho à Universidade. Aliás, a quantidade de visitas aumenta de dia para dia. Toda a gente quer ver o nosso trabalho, incluindo pessoas da área de fora do universo universitário que vêm para ver o nosso cenário e produção. Já pensámos até em cobrar bilhete à entrada… Mais uma vez digo que todas estas expectativas que se estão a criar já à partida preocupam-me… será o peso da responsabilidade???
Se a manhã foi divertida, a tarde foi hilariante. Chegou a Zulmira, e estes 3 actores juntos (Mª do Céu Xavier, Alexandre Falcão e Mário Moutinho – amigos à muitos anos) não podia resultar em boa coisa. Às vezes é quase tão díficil pô-los na linha como com o Fábio... :-) Foi muito divertido, e foi hoje que fizemos mais repetições de planos por termos os actores a desatarem-se a rir a meio. É que não havia maneira de parar… Os personagens estavam tão bem feitos, tão caricatos, e com tão boa química, que era impossível não nos desatarmos a rir perante a reacção do Augusto à Zulmira “endireitar” o zona peitoral… Nas acções que tinham ritmo desistimos a meio de usar metrónomo porque a acção deles ficavam muito melhor se fosse descoordenada.
Fizemos também uns planos com o Júlio, que por limitações no cenário se teve de pôr em cima de um palanque para ficar no enquadramento. A tarde prosseguiu mais uma vez a ritmo lento, e embora tenhamos feito dois planos atrasados, deixamos um por fazer.

Os ensaios dos efeitos especiais correram bem, embora tenha sido eu o cobaia: que susto que apanhei da primeira vez que o candeeiro caiu um cima de mim… Claro que não me deixou muito descansado. Ando à vários dias a pensar no dia de amanhã, e ainda não sei muito bem como vai ser. Só temos uma câmara porque a outra avariou mesmo, os tipos dos efeitos especiais só podem se manhã, e uma actriz tem de sair mais cedo… Os efeitos também estão limitados, pelo que ou sai bem ao primeiro take, ou não sei bem como o vamos fazer…
Por tudo isso e muito mais não percam o próximo post…



(escrito ao som de Goldfrap - Paper bag)

19 janeiro 2006

dia 6 - retire uma senha... só uma !!!

O dia começou mais tarde, e ainda bem porque estávamos todos a precisar de algum descanso. À medida que os dias avançam isto começa a tornar-se cada vez mais rotineiro. A única coisa que torna cada dia diferente, é os actores e as cenas que vamos gravar... e hoje tínhamos o miúdo - Fábio (André Filipe). Não é que seja uma criança difícil de "domar", mas a hiperactividade num set de filmagens pode ser um problema. Felizmente, hoje estava calmo, e já se começa a habituar a este ambiente. A certa altura esqueci-me da claquete, e lá estava ele para me lembrar. Claro que foi mais um take desperdiçado, mas deu para notar que iremos ter ali um cineasta!
Chamamos ao dia de hoje o dia dos "três sentados", porque , imagine-se só, as três personagens passam grande parte da acção... sentados!

Começámos por gravar uma "master" que é um plano (mais ao menos) geral, em que fazemos toda a acção, para depois passar aos planos mais fechados. Foi a mais difícil de encenar. Depois, já parecia simples. Todos os três estavam muito bem: o Senhor Xavier (Artur Sista) tem-se revelado um grande actor, se pensarmos onde o fomos "buscar"- tem expressões fantásticas de um velhinho ainda mais velhinho do que ele (já vai com 74 anos), o que nos leva a pensar que deve andar a observar os amigos para compor a sua personagem; a D. Lurdes (Sandra Soares), é exactamente aquilo que eu tinha imaginado - e chega onde nós queremos muito facilmente - aliás leva o papel tão a sério que até tem sido uma excelente "mãe" para o Fábio; este, embora seja o que nos dá mais trabalho a dirigir, tem conseguido fazer um bom papel - um pouco diferente do que imaginamos, mas pedir muito a um miúdo que o que mais quer é brincar, é complicado, e parece que só mesmo ao Dani é que ele consegue obedecer, talvez pela amizade que já os une.
As cenas não eram difíceis, mas tivemos de usar alguns truques para contornar alguns problemas de enquadramento, mantendo a continuidade. Em primeiro lugar, "arrastamos" metade do cenário 2 metros para trás, para termos mais espaço para a câmara. E depois, à medida que íamos filmando, chegávamos os móveis mais para um lado ou para o outro do cortinado, e alterávamos a posição da fita de puxar o cortinado de maneira a que parece-se sempre que estavam no mesmo sítio. Só um olho muito atento poderá reparar nestas ligeiras mudanças.
O último plano do dia prometia. Era suposto o Fábio ir tirar algumas senhas da máquina do cenário. Em primeiro lugar foi complicado fazer o plano. Depois a parede falsa atrás tremia sempre que ele tirava uma senha, e por fim, depois do miúdo ganhar o gosto por arrancar senhas, já ninguém o conseguia parar. A parede foi a parte fácil… sugiro que desçam até às fotos de hoje, e percebam o que estou a dizer… Fizemos muitos takes, dos quais só vamos aproveitar pequenos bocados, porque era complicado ele arrancar as senhas (a máquina também não ajudava), e fazê-lo ao ritmos da música, ao mesmo que se concentrava na expressão facial e nas outras acções, sem sair do enquadramento. A certa altura tirei uma peça da máquina para facilitar a saída das senhas, que saíam agora quase em rolo, e pedi para fazermos sem música. Ainda assim estava difícil, e então, como o miúdo não parava de tirar senhas mesmo nos intervalos, pedi para porem a gravar sem ele saber, e temos alguns takes bons, que foram gravados sem ele saber. No final o chão parecia um mar de senhas... ficamos com medo da próxima vez que a mãe do nosso pequeno actor o levar a um talho ou algo do género, se ele se lembra, e faz a mesma cena por lá...
O nosso orientador, o professor Marco Aurélio esteve connosco um bom bocado, e fez alguns reparos pertinentes (felizmente poucos - é sinal que nos estávamos a portar bem). Eu gosto e acho muito importante ouvir dicas, e críticas, e acho-as fundamentais para o nosso trabalho, até porque é um projecto académico, mas acabo por ficar um pouco apreensivo, a pensar nos erros que podemos ter cometido nos outros dias em que os olhos mais atentos dele não estavam connosco. A professora Joana também tem passado por lá, mas não tem muito para fazer connosco - a relação do grupo está a funcionar muito bem, e isso nota-se tão bem, que até alguns actores mais experientes já elogiaram esse facto.
Acabámos cedo, e estou cada vez mais confiante para o fim de semana. Com o ritmo de trabalho e o espírito de grupo que vivemos agora, os planos com efeitos especiais (que afinal só vão poder ser filmados com uma câmara porque a segunda deixou de funcionar) já não parecem tão aflitivos como à 5 dias atrás.
Começa a ser tempo de fazer balanços. Hoje já fiz o primeiro. Quero-me certificar que chego a Domingo com tudo filmado, vários planos de cada acção para poder escolher em edição, inserts, e se possível ainda repetir e acrescentar alguns planos, que agora, na minha cabeça, vão surgindo. Amanhã, mais um dia com 3 grandes actores, e o peso da responsabilidade de os dirigir sobre as minhas costas!
Hoje não almocei nem jantei... nem me lembrei, com tanta coisa na cabeça, e tanta vontade de fazer o "Paraíso"... Agora está-me a dar a fome... vou comer.


(escrito ao som de The Shins - The Past and the Pending)

dia 5 - o dia mais longo

Não queria repetir o atraso do dia anterior por isso, entrei literalmente a voar por lá a dentro, ainda não eram 9 horas. A equipa estava muito cansada, e as coisas demoraram a começar, embora tenhamos começado a horas. Tínhamos um dia com mais de 30 planos pela frente, com filmagens de manhã, à tarde e à noite, e não era muito bom sinal ter toda a gente assim tão desgastada. A qualquer pausa de 2 minutos já estava alguém caído para o lado a dormir.

Na manhã filmámos os planos do Júlio (Alexandre Falcão), sozinho no set, uma vez que a sua personagem está um bocado isolada e permite-nos filma-la assim, simulando que a repartição estava cheia. As acções dele são engraçadas, mas tínhamos um problema pela frente. Havia duas cenas em que o Júlio levava com dois molhos de chaves em cima, e nós, embora as tivéssemos que filmar de qualquer maneira, não queríamos magoar a actor, pelo que precisamos de parar um bocado e ensaiar, e coordenar muito bem todos os movimentos. Por sorte ou não, conseguimos logo ao segundo take, e não podia ter sido melhor. A chave bateu nas costas do Júlio, saltou por cima do ombro e entrou numa caixa arquivadora que o Júlio fechou chateado. Fantástico!
Para acelerar estas cenas, optámos por filmar todas estas mais complicadas com duas câmaras, o Tiago e o Nuno, cada um com um plano diferente, e embora gastemos mais fita (o que nos vai aumentar o custo nessa parte) poupamos muito tempo, e hoje isso era precioso. Por isso decidimos usar esta táctica até mais vezes do que o que estava programado.
Os planos da manhã foram relativamente simples, e com este actor sai quase tudo bem à primeira, o que facilita muito. É sempre estranho quando um plano fica bem à primeira: deixa-me uma grande dúvida - está feito, ou repetimos mais uma vez por segurança? Será que vai sair melhor? Será que falhou alguma coisa que ninguém reparou? Mas depois se à segunda não sai bem, vamos fazer um terceiro, ou quarto take, e perdemos tempo, quando já temos um bom. A maior parte das vezes a decisão passa pelo facto de estarmos ou não atrasados. Por isso quase sempre repetimos, apesar do Dani (Assit. de Realização) me vir alertar para a questão das horas, que eu contorno com uma desculpa qualquer... oops...
À tarde filmámos a Zulmira (Maria do Céu Xavier - que é uma actriz com uma paciência infinita) que basicamente esteve toda a tarde a empilhar capas na sua secretária. Ao início tínhamos pensado a ordem de rodagem dos planos em função da posição da câmara - tipo, filmávamos tudo do lado direito, depois voltávamos ao início e filmávamos tudo do lado esquerdo, depois de frente, etc... Mas como nos primeiros dias percebemos que é mais rápido mudar a posição da câmara do que voltar a montar o cenário entre cada plano, temos vindo a alterar isso, o que tira muitas dores de cabeça à continuidade.
As cenas com a Zulmira foram divertidas de filmar. Filmámos de novo a cena da ventoinha pelo ar, mas hoje de outra perspectiva. A nossa ventoinha já não está no melhor estado, mas embora até tenhamos outra suplente, preferimos continuar a usar esta. Mas uma vez a cena foi feita no primeiro take, com a ventoinha a desfazer-se no ar depois do chuto fortíssimo da Zulmira. E mais uma vez fiz um segundo take por segurança, que não saiu tão bem. Depois da tarde a atirar capas, vinha a cena que nenhum de nós queria ter de repetir, pelo que pedi muita concentração a toda a gente e certifiquei-me que a actriz sabia bem o que fazer (já tínhamos feito nos ensaios). Duas câmaras a filmar. Todas as capas que ela empilhou à sua frente são atiradas ao chão. Se corresse mal íamos perder mais meia hora a voltar a montar tudo... Chega a hora: silêncio, câmara, claquete, acção... Pronto. Não correu tão bem como no ensaio, mas ficou feito à primeira, e agora só temos de fazer alguns inserts de capas a cair noutro dia para a cena ficar mais real.
Depois de jantar íamos filmar a Paula (Daniela Carvalho). Depois de um dia cansativo, em que já tínhamos começado cansados, e apesar de termos feito vários intervalos, a equipa não parecia estar muito em si. Uns caíam para o lado, outras pareciam estar com aquilo que é conhecido pela “moca do sono”. Basicamente estava tudo doido, e a actriz a querer gravar para ir embora. Usámos duas câmaras e filmámos as cenas dela num instante. Para a cena em que ela dança, que não estavam muito bem pensadas em termos de planos porque a coreografia ainda não estava feita quando foi feito o story board, daí termos feito vários takes com as câmaras sempre em posições diferentes, e depois escolhemos os bocadinhos melhores de cada plano.
Ainda ao longo do dia filmámos uns planos para a sequência inicial em que vão aparecer os créditos, mas essa é surpresa, por isso não vou revelar mais nada…

O dia mais longo correu bem, a equipa a trabalhar cada vez melhor, muita organização, bom ambiente e bom ritmo. Por tudo isto merecem, após este dia mais longo, uma noite mais longa. Amanhã filmámos só de tarde.

Mais algumas fotos:


(escrito ao som de Red House Painters – Mistress)

18 janeiro 2006

dia 4 - a corrida contra o tempo

Depois de três dias com pontualidade exímia, eis que precisamente no dia em que o professor nos veio visitar pela manhã, o trânsito me fez chegar com uma hora de atraso. É uma situação muito complicada, com o plano de rodagem apertado com que estamos, e já com alguns planos de atraso, para além da equipa ter ficado um pouco perdida sem saber o que fazer, enquanto eu não chegava. A todos peço publicamente desculpa, embora não tenha sido culpa minha.

A manhã começou a bom ritmo. Não eram planos difíceis, mas eram mais de 10, e ainda tínhamos 2 atrasados, e os actores tinham de sair à 1h em ponto. Os planos da Laura (Sónia Sousa) e o Coutinho (Nuno Lima) estavam bem ensaiados e eles são dois actores muito divertidos e descontraídos. Mais uma vez queixaram-se da dificuldade de entrar no papel com planos tão pequenos, as acções tão fragmentadas, e ainda por cima fora da ordem cronológica. Há muitas variáveis para estabelecer a ordem pela qual os planos são feitos, e mesmo assim passa-se o dia a alterar para nos adaptarmos ao que vai acontecendo. À tarde, por causa do atraso de um actor tivemos de fazer uma alteração, que fez com que outro actor, que tinha sido pontual tivesse 2 horas à espera para gravar, o que me causa sempre algum desconforto face a estas pessoas.
Apesar disso a manhã foi divertida, e o desempenho deles foi fantástico. Gravámos uma cena em que a Laura ouvia uma buzina vinda do exterior e dirigia-se sobressaltada à entrada. Para ser mais real acabei por gritar Piiii ao megafone o que provocou um riso geral no set (hummm, isto do piii lembra-me qualquer coisa). Outra cena complicada foi aquela em que o Coutinho deixa cair as moedas e uma delas tinha de cair, obrigatoriamente ao pé do pé da Laura. Obviamente que , ou tínhamos muita sorte, ou iria ser muito difícil. Fizemos o plano em dois takes, um com as moedas a cair, e outra com elas já no chão nas posições que nos interessava, e no final, se tivermos tempo, tentamos melhorá-la.
Depois de almoço, voltámos a começar com um atraso de meia hora, por causa da tal alteração de planos. Se de manhã tínhamos muitos para fazer, já há tarde, eram só 7. Mas mais uma vez, os planos com o Fábio (André Filipe) demoram muito a encenar e a preparar, e só o “Tio Dani” tem mão no miúdo.
Mais um problema: toda a preparação de planos foi feita a contar que o miúdo fosse mais baixo do que o balcão. Mas como ao construir o cenário baixámos o balcão e escolhemos uma criança uma bocado mais velha, deparámo-nos com o problema de ter de alterar os planos de modo a conseguir disfarçar a falta dos restantes actores que estariam atrás do balcão. Não era nada que ainda não me tivesse passado pela cabeça, mas preferi esperar por este momento e alterar os planos com tudo já no set, do que estar a pensar antes em soluções que poderiam ser solucionadas.
Outra coisa engraçada é o facto de no momento nos surgirem novas ideias para a história, e acrescentarmos pequenos momentos às cenas para as melhorar. Por exemplo, o Hélder passou a entrar numa das cenas do Fábio, indicando-lhe, em jeito de dica, para ir tirar uma senha de vez para a mãe, já que ficava mais credível e engraçado, do que a ideia inicial escrita, que seria ele a ir por si só.
A tarde também correu bastante bem. A história é divertida, e mais uma vez gravar as cenas que metem qualquer tido de destruição ou coisas a voar são sempre muito divertidas pelos imprevistos… até mesmo quando o braço da Susana (directora de arte) entra no plano para mandar papelinhos para a ventoinha.
Outros momentos hilariantes são os protagonizados pela “Menina da claquete”, a Mónica, que também tem feito um trabalho exemplar na questão da continuidade com a Joana Deusdado. Hei-de fazer um post só sobre a claquete, mas não podia deixar de referir isto hoje, porque ainda agora me rio a pensar na cena em que ela passou com a claquete no ar, como as meninas que indicam os Rounds nos combates de Boxe… só visto…
A equipa portou-se muito bem. Muita concentração, organização, não houve problemas nem discussões. O briefing ao fim do dia foi sem dúvida o mais rápido de sempre. O dia foi realmente muito bom. Mesmo com os atrasos, conseguimos fazer os quase 25 planos previstos para hoje, e ainda os que tinham ficado atrasados dos outros dias, e ainda adiantamos alguns planos: tudo isto, e ainda acabámos antes da hora, tanto antes do almoço, como ao final da tarde. Espero que sejam todos os dias como o de hoje. Ainda filmávamos tudo até sexta, e tirávamos o fim de semana para férias… hum… ok. Estou a delirar… deve ser do cansaço ou do adiantado da hora que, ao fim de tantos dias a dormir pouquíssimo, só me traz à mente imagens da minha cama.
Boa noite.

Imagens de ontem ( a da equipa terá de ficar adiada mais uma vez…)


(escrito ao som de Travis - More Than Us)

17 janeiro 2006

dia 3 - a destruição

O dia começou atrasado. Por vários motivos, mas o briefing matinal entre a equipa da realização para rever tudo o que se ia fazer de manhã, revelou-se como compensador deste atraso, já que a organização no set estava muito melhor. Mais uma vez a nosso organização esteve melhor na parte da manhã, o que é bastante estranho, já que somos todos muito noctívagos...
Se durante o fim de semana o set parecia um mar em tempestade (refiro-me apenas ao serem muitos actores e planos complexos), os próximos dias vão parecer um lago suísso... claro que o próximo fim de semana volta a ser complicado. Espero é que não seja um Titanic a afundar-se. (três metáforas estúpidas na mesma frase!)
A manhã era simples, só tínhamos um actor, e os planos em termos de cenário e continuidade não eram dos mais difíceis. O Francisco (Filipe Lobão) fez uma grande parte das suas acções. Basicamente ele destrói uma parte do cenário e atira grande parte dos adereços ao ar (clips, agrafes, folhetos, etc...). Ora, repetir cenas em que há adereços que são destruídos, os dezenas de clips espalhados que é preciso apanhar o mais rápido possível, é bastante caótico. Isto já para não falar das coisas que é preciso procurar porque não se sabem onde caem, e daquelas que ficam danificadas e temos de disfarçar para poder continuar a gravar. Mas é muito divertido gravar este género de planos, pois nunca se sabe o que vai acontecer, e coisas a ir pelo ar, a cair, a serem atiradas, proporcionam sempre momentos de grande humor! E também o actor é muito descontraído e divertido, o que ajuda a que o trabalho se faça com um grande prazer.
Mas se a manhã parecia simples, o mesmo já não se pode da tarde, em que para além do Francisco realizar as mesmas acções, rodámos a câmara 180 graus, e tínhamos agora a Zulmira (Maria do Céu Xavier) a empilhar capas, que nos vários planos tinham de estar em alturas diferentes, ao mesmo tempo que o Hélder (Ricardo Bueno) passava por trás a fazer a sua coreografia, ao mesmo tempo que se lançava o gelo seco para conseguir o fumo. Tudo em simultâneo e ainda sincronizado com os tempos da música. E claro, quando ficava mal, era uma correria com toda a gente a ajudar a apanhar as coisas, e a remontar tudo para regravar novo take.
Ainda pelos meio a cena em que a ventoinha voa, que foi por si só um filme para a gravar. Eram 3 pessoas a controlar a ventoinha para que ela voasse, caísse e se ligasse no momento certo. No último ensaio correu as mil maravilhas. Depois, fizemos 5 takes, destruímos a ventoinha e nenhum ficou perfeito... é mesmo assim, teremos de contornar a situação na edição.

Saldo do dia: ventoinha partida, carimbo de marca d'água partido, monitor do computador partido (este de propósito e com um grande prazer), metade dos clips e dos agrafos desaparecidos, os folhetos quase desfeitos, e ainda mais algumas coisas, fora o resto que já tínhamos conseguido destruir ontem. Resto-nos o vaso... esse só vamos partir no domingo!
No final do dia, revisão dos planos e mais uma vez saldo positivo, embora tenhamos um cenário caótico, com um problemas para resolver com a cortina, logo amanhã pela manhã.



Algumas imagens de ontem (amanhã prometo que ponho uma foto da equipa):

(escrito ao som de Mariza – Chuva)

16 janeiro 2006

dia 2 - travellings, o miúdo e a falta de inspiração

8.45, quatro carros estacionam as mesmo tempo. Combinado, nunca teríamos conseguido.

O dia era de planos complicados. Mais uma vez aproveitamos os fins de semana para ter todos os actores, o que faz com que os planos a gravar não sejam sequências específicas de alguns actores, mas sim os gerais com todos (ou quase). Hoje o dia tinha alguns travellings complicados. A manhã correu bastante bem. Filmámos alguns planos dos funcionários a trabalhar (ou não), e graças ao bom desempenho dos actores, e ao facto dos cenários e iluminação serem mais simples, foi bastante rápido, e o resultado bom. O almoço chegou mais cedo, o que nos fez deixar alguns planos para a tarde, e atrasámos um bocado. Mais uma vez depois de almoço perdemos um pouco o ritmo e a organização, embora hoje a culpa tenho sido minha, já que alterámos muitas coisas à última da hora, o que nos fez andar um bocado perdidos. Para além disso filmar com muita gente, que ora entre no plano, ora não entra, etc, é sempre muito mais complexo, principalmente com um plano intenso como o que nós temos.
Confesso que tinha um bocado de receio dos planos em que entrava a criança, e inclusivé já tínhamos reduzido aos planos dele, por essa razão, mas felizmente, graças ao "Tio Dani", a Fábio (André) portou-se muito bem. Espero que ele esteja assim calmo todos os dias, senão vamos mesmo ter de recorrer à playstation nos bastidores... Ainda pelo meio tívemos alguns problemas com alguns actores, alheios a nós , que nos fez ter de "tirar pessoas" de planos, apertando-os ligeiramente... a maquina fotocopiadora avariou, o porta chaves partiu, a ventoínha partiu... enfim... nada mau ao segundo dia de filmagens.... são os imprevistos normais que acontecem.
Mas antes disso ainda filmámos o nosso plano inicial, um travelling em espiral com todas as personagens no cenário, que correu bastante bem, embora tenha tido de escolher entre a planta e o Francisco, já que era impossível aparecerem os dois, e essa decisão custou-me bastante... mas ás vezes temos mesmo de ceder, não pode ser tudo como imaginamos, e optei pela planta, que estava a ter um desempenho muito bom... :-)
No final do dia, já depois de termos alterado muito a ordem dos planos por todos os imprevistos que nos aconteceram, íamos filmar mais uns planos só com um actor... mas a falta de inspiração não estava a ajudar, e embora tenha consciência que pode ser um dor de cabeça, optei por deixar mais 3 planos para filmar amanhã... ou depois... o que no final fez com que deixássemos 5 planos por fazer dos 22 previstos para hoje.

No final, e revendo as imagens, o "produto" a aproveitar está bastante bom. Isso dá ânimo, e ajuda a levantar a moral depois de um dia cheio de problemas e de dores de cabeça...
Para resolver as questões de organização que estão a falhar nas tardes, resolvemos, no briefing ao final do dia, tirar cópias das fichas de realização para toda a gente, e fazer uma mini reunião de 30seg no fim de cada plano feito para dar as indicações a toda a gente para os planos seguintes. Para além disso, para ajudar na continuidade que começa a ser complexa demais, apesar de termos pelo menos 3 pessoas só atentas a isso, para além da Joana Deusdado (a responsável pela continuidade/anotação), resolvemos fazer a partir de amanhã umas novas tabelas diferentes só para ajudar nessas coisas

Agora vem uma semana mais calma. Os próximos 5 dias são com poucas personagens. Ainda bem. O ritmo hoje estava alucinante. No próximo fim de semana lá será outra vez... 11 personagens, efeitos especiais... bem... ainda falta muito tempo

(escrito ao som de Rosie Thomas - Tired)

14 janeiro 2006

dia 1 - os restos

Com uma média de apenas 3 horas de sono, chegamos ao set por volta das 8.45 da manhã. Um longo dia nos esperava, e hoje ia ser a prova de fogo de todo o trabalho e empenho dos últimos meses.

Ainda havia alguns pormenores de última hora a arranjar no cenário e luzes, mas tudo ficou pronto a horas de começarmos a filmar (claro que o atraso dos actores ajudou...). Quando via os actores a subir para o set já arranjados, parecia que estava a ver pela primeira vez as próprias personagens! O trabalho das directoras de arte, e da Mariana ( a maquilhadora/cabeleireira) foi realmente excelente, mas a escolha do elenco também ajudou a chegar onde pretendíamos

Hoje o dia prometia complicações: ao fim de muitas experiências ainda não conseguimos descobrir como é que podemos dividir as largas dezenas de milhares de Watts de luz, pelas diferentes fases do "estúdio Ílidio Pinho", de modo a que quando ligarmos todos os focos, o quadro eléctrico não ir abaixo. Claro que conseguimos dar a volta ao problema, e com alguns focos "portáteis" íamos fazendo a luz para os planos mais problemáticos. Ainda assim, perdemos algum tempo e ritmo com estas pausas para resolver estes problemas durante o dia.
Para além disso, é normal que o último dia de filmagens seja o dia em que se filmam os planos que "sobram" ou que não encaixam bem em nenhum dos outros dias. No nosso caso, por causa da disponibilidade dos nossos 11 actores, tivémos de começar exactamente pelas sobras, o que tornou o dia muito complicado em termos de encenação com os actores, e pelas questões da continuidade das personagens e cenário. Porém, e apesar do ritmo alucinante com que andámos hoje, conseguimos filmar tudo o previsto (excepto um plano que ficou para amanhã). E esses problemas acabaram por não o ser, já que as fichas de realização, que tanto trabalho me deram a preparar, já tinham todas as indicações para a preparação e encenação rápida e organizada dos vários planos.
A manhã correu muito bem e ainda tivemos de esperar pelo almoço, já que acabámos mais cedo do que o previsto... A massa chinesa não foi o melhor prato para o primeiro dia, e tenho que confessar que se não fossem as mistas a meio da tarde, tinha ficado com tanta ou mais fome como antes de almoçar. ( mas valeu o esforço, Teresa... ;-)) A tarde começou mais devagar e perdemos um bocado o ritmo (também pelos problemas técnicos) o que nos atrasar um bocado. Houve alguns planos que custaram a sair, como o encontrão entre a Laura (Sónia Sousa) e o Coutinho (Nuno Lima) - (é mesmo complicado simular e sincronizar os actores para darem um encontrão que pareça real dentro do plano da câmara) ou o plano do jornal pelo ar, que acabou por se repetir quase 20 vezes com os mais variados truques, incluindo duas das Joanas em cima do balcão a atirar folhas de jornal rasgadas ao ar!!! No final os actores já estavam tão fartos de repetir que a cena até ficou bem real, quando conseguimos finalmente que o jornal voasse na direcção certa... Complicado também foi filmar o plano em que a bengala embate nas chaves... o nosso velhinho, o Sr. Xavier (Artur Sista), bem se esforçou para acertar nas chaves, mas acertava mais nas mãos da Laura, que a certa altura já estavam vermelhas de tanta "porrada". Acabou por ser um de nós que lançou a bengala, e lá fizemos o plano. O cinema tem destas coisas. O dia acabou com os planos iniciais do Helder (Ricardo Bueno), que mais uma vez nos surpreendeu com os seus improvisos fenomenais! Ainda pelo meio um travelling com 4 personagens a "ritmar" ao mesmo tempo, e o Hélder a interagir com eles por trás, que é seguramente o plano mais bem conseguido de toda a minha vida cinematográfica! Ficou mesmo lindo.

No fim do dia, cansados, ainda arrumámos todo o set, que parecia uma feira no fim das filmagens, e ainda tivemos tempo para rever algumas imagens e nos surpreendermos com a qualidade da Alta Definição.

Mais algumas fotos:

Até amanhã.

(escrito ao som de Obi - Somewhere Nicer)

13 janeiro 2006

É a Hora!

Faltam poucas horas para iniciarmos a rodagem da curta.

No momento em que escrevo este post, a equipa ultima os últimos pormenores de cenário, adereços, figurinos, iluminação e dos bastidores para tudo estar pronto para amanhã. Eu vou dedicar-me agora a acabar as fichas de realização, e a rever tudo o que se vai passar, com calma.
Estou bastante contente com os resultados até agora, á todos os níveis. Embora haja muita coisa diferente daquilo que imaginei, também é ao contornar os problemas que a criatividade surge.
Estou ansioso pelo dia de amanhã. Penso que será decisivo a muitos níveis. Pode correr muito bem, e pode correr muito mal... Muitas coisas só serão vistas na hora... Houve ensaios que não puderam ser realizados, ainda há alguns problemas técnicos a resolver... Mas tenho tudo bastante estudado na minha cabeça; espero conseguir dirigir toda a equipa e actores e transmitir-lhes todo o rodopio de ideias que gira aqui dentro... enfim... No fundo é como fazer rapel: o salto inicial custa sempre um bocado, mas depois é aproveitar e gozar a descida...
Está a chover.

(escrito ao som de David Fonseca - Burn)

12 janeiro 2006

Imagens da Produção

(escrito ao som de Jeff Buckley - Lilac Wine)

09 janeiro 2006

Take 1

Um post muito rápido, porque o tempo é cada vez menos, só para relatar os últimos acontecimentos:
- fomos a Lisboa buscar o material de iluminação e alguns patrocínios
- começámos os ensaios com alguns actores
- começámos a pendurar a grelha de iluminação, com cordas de rapel a 18m de altura!
- já temos o actor que faltava, já temos câmara
- estou quase a desistir do tecto e do chão: embora trouxessem muito ao filme, não temos muito orçamento nem muito tempo...
- o cenário está praticamente pronto: chegou hoje o balcão e as colunas, na semana passada tínhamos carregado os móveis todos, gentilmente cedidos pela própria Direcção Geral das Finanças, e quanto aos adereços... bom... hei-de fazer um post só sobre isso que hoje não tenho tempo... aqui fica mais uma foto, de sexta feira...
É nesta altura que começo a perceber o que vou ter de alterar ao nível do story board, e mesmo do argumento, face ao cenário e aos actores que nós temos agora... mas há boas ideias para contornar os problemas. O take 1 começa a surgir na minha cabeça....
(escrito ao som de Rufus Wainwright - Go or Go Ahead)

06 janeiro 2006

Os 7 problemas que eu gostaria de não ter

1 - Falta-nos um actor. Depois da confirmação, eis que um dos actores deixa de ter disponibilidade. Já corremos quase todas as opções; do casting, sem ser do casting.. .até já pusemos a hipótese do pai da Joana M. !!! Resolução do Problema a 2%.

2 - Não temos câmara para os dois primeiros dias de filmagens... Resolução do Problema a 78%.

3 - O apoio da Ambar, fundamental para o cenário, está a demorar demais... e precisamos de muitas coisas deles... era para amanhã, mas já estou a ver que vai ficar adiado.... Resolução do Problema a 54%.

4 - O tecto do cenário (a minha luta desde o início) partiu. Mas já antes disso tínhamos visto um problema, que era o facto de ser baixo de mais, por causa das paredes falsas que são também muito baixas. Optámos por fazer apenas uma parte e subir as paredes, ou o filme (em termos de planos) ia ficar comprometido). Resolução do Problema a 60%.

5 - Faltam-nos luzes. A empresa que nos ia emprestar não tem tudo o que necessitamos, o que nos faz pensar que talvez tenhamos de alugar... Resolução do Problema a 35%.

6 - Tempo.... faltam 8 dias.... isto com mais 2 ou 3 semanas ia ficar muito melhor... Estamos a fazer tudo em cima da hora, muitas vezes não por culpa nossa, e isso não me agrada muito. Já vai ser pouco tempo para ensaios com os actores e ensaios técnicos. Acho que não vamos dormir muito na próxima semana... Resolução do Problema a 1%.

7 - Já ultrapassámos largamento o orçamento. Neste momento o dinheiro que temos em caixa está a acabar, e o apoio do ICAM só chega daqui a alguns meses.. Acho que vamos ter de pôr dinheiro do nosso bolso... enfim... mega-produções... Resolução do Problema a 68%.


Bom... se hoje foram os problemas, o próximo post será com as coisas boas... O cenário está a ficar muito bom. Quem lá vai sente-se numa repartição de finanças, isso é bom. A UCP já anda a tirar fotos. Acho que estão orgulhosos de nós. Espero não os desiludir...

(escrito ao som de Maximilian Hecker - Help Me)

02 janeiro 2006

Diário das Férias

Os último 15 dias foram de Férias... Mas apenas para o diário. No estúdio continuamos arduamente todos os dias a montar o cenário, adereços, etc... das 10 às 20. Só parámos nos dois dias do Natal e da Passagem de Ano, o que já se está a ressentir na equipa: por um lado por estarmos todos juntos todos os dias, pro outro por ser um ritmo muito cansativo, e por outro por todos as coisas que temos para fazer e que, por vários motivos estamos constantemente a adiar...

Antes:

Agora:

Neste momento, temos as paredes do cenário contruídas, com papel e envelhecidas, as mobílias prontas a serem colocadas nos sitios, alguns adereços (capas, etc) prontos; temos o tecto parcial a 50%, o local de convivio nos bastidores a 50% e mais algumas coisas por aí... Amanhã vamos tratar de alumínios, janelas, portas, etc, e vamos começar a pôr tudo no sítio... afinal faltam apenas 12 dias para o início das filmagens... e o orçamento tá cada vez pior....
Tívemos duas alterações no elenco, por falta de disponibilidade, o que nos fez alterar todo o plano de rodagens... não foi fácil...
Na semana passada fizémos um lanche com toda a equipa e elenco para o pessoal se conhecer e vermos questões como calendários de ensaios, de rodagem, figurinos, etc... Estava bem organizado, mas como somos todos tímidos, acabamos por não nos conhecermos muito bem... melhores dias virão, esperemos...
Outra boa notícia hoje foi ter ficado pronta a primeira versão da parte musical, que me agradou bastante, embora ainda precise de muito trabalho... O Artur está realmente de parabéns: em tão pouco tempo fez um trabalho extraordinário e percebeu exactamente aquilo que nós pretendíamos!
Não queria deixar de escrever neste blog hoje, aquilo que tem invadido os nosso pensamentos nas últimas semanas: PRECISAMOS DE FÉRIAS!!!

(escrito ao som de Ryan Adams - How Do You Keep Love Alive)