19 janeiro 2006

dia 5 - o dia mais longo

Não queria repetir o atraso do dia anterior por isso, entrei literalmente a voar por lá a dentro, ainda não eram 9 horas. A equipa estava muito cansada, e as coisas demoraram a começar, embora tenhamos começado a horas. Tínhamos um dia com mais de 30 planos pela frente, com filmagens de manhã, à tarde e à noite, e não era muito bom sinal ter toda a gente assim tão desgastada. A qualquer pausa de 2 minutos já estava alguém caído para o lado a dormir.

Na manhã filmámos os planos do Júlio (Alexandre Falcão), sozinho no set, uma vez que a sua personagem está um bocado isolada e permite-nos filma-la assim, simulando que a repartição estava cheia. As acções dele são engraçadas, mas tínhamos um problema pela frente. Havia duas cenas em que o Júlio levava com dois molhos de chaves em cima, e nós, embora as tivéssemos que filmar de qualquer maneira, não queríamos magoar a actor, pelo que precisamos de parar um bocado e ensaiar, e coordenar muito bem todos os movimentos. Por sorte ou não, conseguimos logo ao segundo take, e não podia ter sido melhor. A chave bateu nas costas do Júlio, saltou por cima do ombro e entrou numa caixa arquivadora que o Júlio fechou chateado. Fantástico!
Para acelerar estas cenas, optámos por filmar todas estas mais complicadas com duas câmaras, o Tiago e o Nuno, cada um com um plano diferente, e embora gastemos mais fita (o que nos vai aumentar o custo nessa parte) poupamos muito tempo, e hoje isso era precioso. Por isso decidimos usar esta táctica até mais vezes do que o que estava programado.
Os planos da manhã foram relativamente simples, e com este actor sai quase tudo bem à primeira, o que facilita muito. É sempre estranho quando um plano fica bem à primeira: deixa-me uma grande dúvida - está feito, ou repetimos mais uma vez por segurança? Será que vai sair melhor? Será que falhou alguma coisa que ninguém reparou? Mas depois se à segunda não sai bem, vamos fazer um terceiro, ou quarto take, e perdemos tempo, quando já temos um bom. A maior parte das vezes a decisão passa pelo facto de estarmos ou não atrasados. Por isso quase sempre repetimos, apesar do Dani (Assit. de Realização) me vir alertar para a questão das horas, que eu contorno com uma desculpa qualquer... oops...
À tarde filmámos a Zulmira (Maria do Céu Xavier - que é uma actriz com uma paciência infinita) que basicamente esteve toda a tarde a empilhar capas na sua secretária. Ao início tínhamos pensado a ordem de rodagem dos planos em função da posição da câmara - tipo, filmávamos tudo do lado direito, depois voltávamos ao início e filmávamos tudo do lado esquerdo, depois de frente, etc... Mas como nos primeiros dias percebemos que é mais rápido mudar a posição da câmara do que voltar a montar o cenário entre cada plano, temos vindo a alterar isso, o que tira muitas dores de cabeça à continuidade.
As cenas com a Zulmira foram divertidas de filmar. Filmámos de novo a cena da ventoinha pelo ar, mas hoje de outra perspectiva. A nossa ventoinha já não está no melhor estado, mas embora até tenhamos outra suplente, preferimos continuar a usar esta. Mas uma vez a cena foi feita no primeiro take, com a ventoinha a desfazer-se no ar depois do chuto fortíssimo da Zulmira. E mais uma vez fiz um segundo take por segurança, que não saiu tão bem. Depois da tarde a atirar capas, vinha a cena que nenhum de nós queria ter de repetir, pelo que pedi muita concentração a toda a gente e certifiquei-me que a actriz sabia bem o que fazer (já tínhamos feito nos ensaios). Duas câmaras a filmar. Todas as capas que ela empilhou à sua frente são atiradas ao chão. Se corresse mal íamos perder mais meia hora a voltar a montar tudo... Chega a hora: silêncio, câmara, claquete, acção... Pronto. Não correu tão bem como no ensaio, mas ficou feito à primeira, e agora só temos de fazer alguns inserts de capas a cair noutro dia para a cena ficar mais real.
Depois de jantar íamos filmar a Paula (Daniela Carvalho). Depois de um dia cansativo, em que já tínhamos começado cansados, e apesar de termos feito vários intervalos, a equipa não parecia estar muito em si. Uns caíam para o lado, outras pareciam estar com aquilo que é conhecido pela “moca do sono”. Basicamente estava tudo doido, e a actriz a querer gravar para ir embora. Usámos duas câmaras e filmámos as cenas dela num instante. Para a cena em que ela dança, que não estavam muito bem pensadas em termos de planos porque a coreografia ainda não estava feita quando foi feito o story board, daí termos feito vários takes com as câmaras sempre em posições diferentes, e depois escolhemos os bocadinhos melhores de cada plano.
Ainda ao longo do dia filmámos uns planos para a sequência inicial em que vão aparecer os créditos, mas essa é surpresa, por isso não vou revelar mais nada…

O dia mais longo correu bem, a equipa a trabalhar cada vez melhor, muita organização, bom ambiente e bom ritmo. Por tudo isto merecem, após este dia mais longo, uma noite mais longa. Amanhã filmámos só de tarde.

Mais algumas fotos:


(escrito ao som de Red House Painters – Mistress)