21 janeiro 2006

dia 7 - os 3 actores à solta...

Hoje era um dia relativamente tranquilo, se não fosse termos de acabar antes das 5, por termos marcado os ensaios dos efeitos especiais.
Chamámos ao dia de hoje o dia dos “4 funcionários”, mas só tivemos 3, porque as cenas da Paula gravamos no outro dia à noite. Também já tínhamos grande parte das cenas do Júlio e da Zulmira, pelo que começámos de manhã com as cenas do Augusto (Mário Moutinho) e depois gravámos as cenas em que aparecia mais do que um personagem a interagir.

A manhã foi fácil, mas muito lenta. Nota-se cada vez mais o cansaço em toda a gente, e parece que agora só a certeza de que temos bom material nas mãos nos dá motivação para continuar com a dedicação que temos tido nos últimos dias… O Mário Moutinho, para além de ser um excelente actor, é uma óptima pessoa, e trabalhar com ele na manhã foi extremamente divertido. O personagem que ele criou, embora tenha sido um pouco limado, era diferente do que eu tinha imaginado, mas também já o sabíamos, ao tê-lo escolhido no casting. Mesmo assim, achámos que tinha tudo para fazer um personagem ainda melhor do que o que imaginamos, e assim foi. Passámos a manhã a espancar um computador, e a bater com carimbos, e ao final as mãos dele já estavam quase em ferida, de tanta violência. Ainda antes de almoço, gravámos os planos dele com o Júlio (Alexandre Falcão), que também foram extremamente divertidos para todos, excepto para as meninas da continuidade, que entre cada take demoravam imenso tempo a pôr tudo no sítio, já que a quantidade de coisas que iam pelo ar não tinha fim… Ainda de manhã gravámos vários planos com o computador que foram difíceis de preparar. Primeiro tínhamos 3 monitores de computador iguais, um deles já partido. Depois para gravar as cenas em que aparecia o próprio ecrã, tivemos de o ligar a um portátil que estava ao lado, onde alguém escrevia ao mesmo tempo que o personagem, e onde outra pessoa criava as interferências na imagem ligando-o e desligando-o da tomada a quando da minha indicação. O software que aparecia na imagem era mesmo próprio das finanças. Também para o plano em que o Augusto dá uma pancada no computador que o faz explodir usámos um puff, debaixo da secretária para o monitor cair, sem se partir. E ainda gravámos mais alguns planos para os créditos iniciais. Hummm… não sei se devia revelar tantos segredos da produção, mas o engraçado no cinema é exactamente as ilusões que são criadas contornando a verdade em função do verosímil (isto lembra-me umas aulas de ética aqui à uns anos atrás…).
O almoço hoje era especial, porque convidámos algumas das pessoas da Universidade que mais nos ajudaram na pré-produção, e porque o almoço foi feito pela D. Nazareth – quem conhece sabe quem é… Foi muito bom pelo convívio, troca de ideias, promoção do filme, discussão de assuntos relativos à produção, e ainda por termos aberto mais um pouco o nosso trabalho à Universidade. Aliás, a quantidade de visitas aumenta de dia para dia. Toda a gente quer ver o nosso trabalho, incluindo pessoas da área de fora do universo universitário que vêm para ver o nosso cenário e produção. Já pensámos até em cobrar bilhete à entrada… Mais uma vez digo que todas estas expectativas que se estão a criar já à partida preocupam-me… será o peso da responsabilidade???
Se a manhã foi divertida, a tarde foi hilariante. Chegou a Zulmira, e estes 3 actores juntos (Mª do Céu Xavier, Alexandre Falcão e Mário Moutinho – amigos à muitos anos) não podia resultar em boa coisa. Às vezes é quase tão díficil pô-los na linha como com o Fábio... :-) Foi muito divertido, e foi hoje que fizemos mais repetições de planos por termos os actores a desatarem-se a rir a meio. É que não havia maneira de parar… Os personagens estavam tão bem feitos, tão caricatos, e com tão boa química, que era impossível não nos desatarmos a rir perante a reacção do Augusto à Zulmira “endireitar” o zona peitoral… Nas acções que tinham ritmo desistimos a meio de usar metrónomo porque a acção deles ficavam muito melhor se fosse descoordenada.
Fizemos também uns planos com o Júlio, que por limitações no cenário se teve de pôr em cima de um palanque para ficar no enquadramento. A tarde prosseguiu mais uma vez a ritmo lento, e embora tenhamos feito dois planos atrasados, deixamos um por fazer.

Os ensaios dos efeitos especiais correram bem, embora tenha sido eu o cobaia: que susto que apanhei da primeira vez que o candeeiro caiu um cima de mim… Claro que não me deixou muito descansado. Ando à vários dias a pensar no dia de amanhã, e ainda não sei muito bem como vai ser. Só temos uma câmara porque a outra avariou mesmo, os tipos dos efeitos especiais só podem se manhã, e uma actriz tem de sair mais cedo… Os efeitos também estão limitados, pelo que ou sai bem ao primeiro take, ou não sei bem como o vamos fazer…
Por tudo isso e muito mais não percam o próximo post…



(escrito ao som de Goldfrap - Paper bag)